quarta-feira, 28 de julho de 2010

Magritte nos liberta

       














René Magritte
A Violação, 1934.

          Quando criança gostava muito de pintar e desenhar. Fazia por prazer, nem tanto pelo talento. Tinha mania de colorir as capas das provas e sempre me dava bem em Educação Artística, matéria que muitos detestavam. Uma vez, não sei em qual disciplina, fiz um desenho, a pedido da professora. O clássico infantil: a casa, uma criança, o céu estrelado e o Sol (a maior de todas as estrelas), o que resultou no seguinte comentário- por escrito- da educadora: " Decida se é dia ou noite". Na hora, apesar de ter gostado do meu desenho, ela me induziu a concordar com o ponto de vista dela. É que eu não sabia defender aquilo que eu via e de que a arte de René Magritte existia. Nem ela também (tadinha infinita...).
           Tem uma tela dele (postada ao lado) que sou apaixonada: O Império das Luzes, de 1954. Nela, você tem uma cena noturna, em que aparece o interior da casa iluminado pelas luzes artificiais sob um céu claro de um dia azul. Foi a partir do conhecimento dessa tela que lembrei daquele meu desenho infantil. Tudo bem que não tinha o talento magritteano. Mas, estava presente ali a liberdade de expressão, o pensamento possível ou visível daquilo que vai além do real. Crianças e artistas são assim mesmo: livres de atitudes e pensamentos. É por isso que eu amava quando a minha sobrinha- por volta dos cinco ou seis anos- fazia uma ressalva antes de contar uma história real: " Eu não sei se eu sonhei, pensei ou inventei". Então, eu ouvia e sorria. Coisa de quem conhece a liberdade.